Anarquismo é a ideia de que uma sociedade pode se organizar sem líderes e sem hierarquia. Comunismo significa a posse comum dos meios de produção, sem que alguém seja mais dono do que o outro. Chamamos o anarquismo do tipo comunista de Comunismo Libertário, que é diferente do Comunismo Autoritário da União Soviética ou Cuba, onde um governo administra os bens e planifica a economia.
Fim da propriedade privada: cercar um pedaço de terra não faz de alguém seu dono nem lhe dá direito de exclusividade sobre a natureza ali. Tudo que a humanidade constrói se deve aos esforços e conhecimentos coletivos, sendo impossível dizer quem contribuiu mais para produzir algo, logo tudo é de todos. Isso não quer dizer que seus bens pessoais serão compartilhados, mas terras, fábricas e qualquer outro meio de subsistência devem ser de todos.
Fim do Estado: hoje, todos são obrigados a aceitar que uma instituição lhe diga o que fazer e o que não fazer, de modo que não somos livres. Tal imposição se dá pela força e, portanto, é ilegítima. Dizem que os políticos nos representam, mas não podemos influenciar suas decisões a não ser que sejamos ricos o suficiente para fazer lobby, logo não vivemos numa democracia de verdade, pois o Estado só garante os interesses da elite e precisa acabar.
Fim do capitalismo: O capitalismo é um sistema contraditório onde se diz que todos são livres para concorrer, mas aqueles que enriquecem diminuem a liberdade dos restantes. Os maiores benefícios do trabalho de todos vai para esses poucos ricos. Com o fim da propriedade privada e do Estado, que só existe para defender a propriedade privada, o capitalismo desaparecerá e o trabalhador deixará de trabalhar pelo lucro de chefes e passará a atender diretamente o bem-estar de sua comunidade.
Organização horizontal: sem ter mais quem lhes dê ordens, as pessoas deverão se organizar por meio de assembleias onde todos têm igual peso para dar ideias e decidir. Deixando de ter chefes, uma fábrica se organizará dessa forma. Todos os cargos responderão à assembleia, não havendo alguém hierarquia. Quando for necessário fazer acordos, uma delegação é enviada, mas ela não terá poder de passar por cima da vontade da assembleia.
Federalismo: anarquistas não buscam formar países, onde milhões obedecem a um pequeno grupo. O exemplo da fábrica serve para pequenas comunidades, como associações de bairro ou municípios. A administração é descentralizada, com as comunidades enviando delegações para trocar informes e propostas. Essa rede de comunidades, fábricas, usinas e fazendas formará uma federação de livres comunas, cada uma cuidando dos assuntos de sua região e todas juntas determinando suas relações. As pessoas que compõem tais comunas teriam então participação direta nas decisões, em vez de contarem com a boa-fé de “representantes” que não respondem ao povo. Constitui-se assim uma democracia direta em vez de representativa.
A cada um, conforme sua necessidade: no capitalismo, a relação entre bens e consumidor é mediada pelo mercado, que não é determinado apenas por relação de oferta e procura, mas por manipulações diretas dos empresários, latifundiário, acionistas e do Estado. A humanidade já tem condições de produzir o suficiente para todos, mas caso todos tenham de tudo, o preço cai e o mercado quebra. Dessa forma, no capitalismo, a produção de alimentos ultrapassa nossas necessidades, mas milhões ainda morrem de forme. Para um latifundiário, é mais vantajoso às vezes jogar frutas na beira da estrada ou queimar seus grãos, ou para uma companhia pesqueira jogar o “excedente” de volta ao mar. No momento em que os trabalhadores pararem de trabalhar pelo lucro de patrões e acionistas e, sendo eles mesmos, juntos com toda população, os donos dos meios de produção, produzirão para o bem comum. Como todos trabalharão para suprir a todos conforme a necessidade, o conhecimento técnico estará a serviço de todos e os trabalhadores, enquanto responsáveis por seu próprio trabalho, terão total interesse em melhorar suas próprias condições e não esperarão que chefes passem a preferir investir em melhorias do que explorar um exército de mão de obra contingente e barata.
Fim da dominação do homem pelo homem: assim como as dominações política e econômica, não toleraremos nenhuma outra forma pela qual uma parcela da população seja considerada inferior a outra. Não toleramos que alguém sofra prejuízo por sua cor de pele ou terra de origem. Não aceitamos que alguém tenha menos direitos do que os outros por não compartilhar da mesma religião ou por ter religião enquanto os outros não têm. Ninguém merece menos do que os outros pelo que pensa sobre o universo ou deixa de pensar. Não admitimos que um homem queira mandar numa mulher ou que a mulher seja considerada menos capaz. Julgamos absurdo que alguém seja condenado, censurado ou prejudicado pela sua vida sexual, pela sua identidade de gênero ou pela aparência que adota. Devemos condenar e censurar o mal que uma pessoa causa a outra, não o que ela acha melhor para si. Combatemos a noção de que uma classe tenha poder sobre as outras por saber manejar armas.
Noção do coletivo: acreditamos que o indivíduo e o coletivo possuem uma relação dialética, ou seja, o indivíduo se constitui pela interação no coletivo e o coletivo pelas relações entre seus indivíduos. Nenhuma pessoa é uma ilha e, portanto, não pode atribuir apenas a si mesma o seu sucesso. Ela provavelmente teve apoio da família onde foi criada, foi educada em conhecimentos desenvolvidos através dos séculos, andou através de estradas construídas por alguém, foi alimentada por lavradores e cozinheiros, dependeu dos faxineiros e de garis para ter um ambiente limpo, de pedreiros para ter um lar, etc. Sua personalidade foi forjada no convívio com amigos, parentes, colegas, vizinhos, professores, na cultura na qual viveu, pela arte que presenciou, pela paisagem que via todo dia, pelos eventos históricos ao longo de sua vida, etc. Sim, todos temos propensões naturais para isso ou aquilo, mas é impossível definir onde termina o “eu” e onde começa o “nós”. Em vez de valorizarmos apenas os ganhos particulares, devemos nos tornar conscientes de que dependemos uns dos outros e que não há justiça quando o meu sucesso coexiste com a pobreza alheia, pois trabalhamos pela construção de uma mesma sociedade, mas eu me beneficio do trabalho do pobre enquanto ele pouco se beneficia.